Positividade Tóxica: uma pandemia perigosa!


Foto: Brodie Vissers

Estava eu aqui a pensar... Nos dias de hoje existe um vírus que, ao contrário do Covid-19, não se contagia, ele é sim injetado à força, em qualquer lugar, a qualquer altura e muitas vezes contra a nossa vontade. É ela: a positividade tóxica

Na positividade tóxica não podemos estar quietos, calados ou reflexivos. Não podemos estar mal-humorados, nem chateados. Na positividade tóxica temos que esboçar um sorriso toxicamente positivo. 

Não sei de onde veio a ideia que tapar os olhos e fingir que os problemas não existem é uma boa estratégia para resolvermos os desafios da vida. Parece-me que se continuarmos a fazer isto o mundo vai ser um abrigo de humanos frustrados, porque não sabem lidar com mais nada a não ser o seu universo idealizado e positivo. 

Foto: Samantha Hurley

Hoje refleti mesmo muito sobre esta positividade tóxica como a responsável pelas frustrações humanas. É ela que nos tapa os olhos quando temos que ter forças para continuar em frente, é ela que nos mostra realidades que nunca serão as nossas, é ela que se instala quando, na verdade, só precisamos de pensar e chorar para acordar melhor no dia seguinte. 

"Tens que pensar positivo", "És uma pessoa mesmo negativa", "Nem fales disso para não atrair"... Quantas vezes ouvimos isto no trabalho, ou em grupos de amigos? Quantas vezes sentimos que os problemas estão a ser atirados para debaixo do tapete e que ninguém os vai resolver, isto porque temos que ser positivos? 

Como a minha avó dizia, nem 8 nem 80! Estar todo o dia em lamentações, sem soluções, realmente não adianta, nem ajuda ninguém. Mas penso que o segredo seja precisamente este: encontrar soluções para os problemas e desafios. Para progredir, para evoluir e resolver desafios, precisamos de fazer uma coisa que o positivismo tóxico não permite: encontrar e reconhecer que existe um problema, uma realidade com a qual não contávamos, mas que aconteceu. E nesta altura, perdoem-me os positivos tóxicos, temos mesmo que ser um pouco "negativos" (eu diria realistas), pegar o touro pelos cornos e resolver o problema.

E com toda esta reflexão gostaria de frisar que a positividade (saudável) passa por reconhecer problemas, ter a coragem de encara-los, para tentar resolve-los. Ter esta coragem é ser positivo. Ser positivo é ter a noção que podemos, ou não, conseguir. Ser positivo é aceitar que se não tivermos sucesso existem outras oportunidades. 

Foto: Matthew Henry

A positividade tóxica frustra e adoece as pessoas, quando se projetam em realidades que não são as suas. "Não desistas, tu és forte, tu consegues...". E quando não conseguimos levamos uma bofetada gigante da positividade tóxica e entramos em frustração. Há caminhos que não são realistas, ou que precisam de muito tempo para serem trabalhados e requerem muita calma e paciência. A positividade tóxica quer acelerar a construção da felicidade. A positividade tóxica desvia-nos do nosso caminho e leva-nos para realidades alheias. Porque é que eu devo insistir num objetivo irreal,  se este me rouba as energias que poderiam ser empregues num caminho mais realista e adaptado à minha realidade? Temos que lutar sim, mas também temos que saber desistir quando a luta já não é nossa. A positividade tóxica não permite desistências, nem caminhos alternativos. 

A positividade tóxica traz consigo o peso da obrigação de ser feliz. Não é irónico? Uma atitude supostamente positiva torna-se tão pesada, que destrói qualquer hipótese de felicidade, mesmo tendo havido essa possibilidade num cenário menos perfeito, menos positivo, mas que era leve e real. 

E se começarmos a espalhar uma positividade saudável e realista?

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