"Por vezes vais ter que deixar coisas e pessoas para trás e está tudo bem..." // Será que está mesmo? E a responsabilidade afetiva?

Às vezes dou comigo a pensar nesta nova tendência de não nos sentirmos culpados por descartar alguém, ou alguma situação, se esta não nos traz felicidade. Sim, concordo, para dizer a verdade, eu já o fiz. Não pode haver ninguém mais importante do que eu, a não ser EU. É verdade, sim!


Mas, infelizmente, como nós sabemos, nem todas as pessoas fazem a melhor interpretação das mensagens que são passadas nas redes sociais. Quem tem simplesmente maus princípios vai usar isto de uma maneira monstruosa, descartando pessoas e situações a seu bel-prazer. Sim, isto preocupa-me. Quem tiver curiosidade sobre descartabilidade de pessoas/situações 
deve ler o texto que fiz há uns meses. 

Sim, é um facto, descartar uma pessoa pode acontecer para o nosso próprio bem. É uma decisão que tem que ser refletida, somos humanos e temos que ter tato a lidar uns com os outros. Portanto, não, não está tudo bem como se costuma dizer. Há responsabilidade afetiva. É uma decisão plausível e aceitável, mas não é o romantismo que se faz parecer nos dias de hoje. 

Acho que devemos parar de espalhar estas afirmações, passando a ideia de que é fácil sermos felizes pondo para trás tudo o que nos incomoda. Não é assim, todos nós sabemos, as coisas não são assim tão cor-de-rosa. Tudo traz consequências e quando tomamos estas decisões de "deixar para trás" existem outras pessoas envolvidas. 

Não podemos invalidar a necessidade de tomar decisões deste calibre, mas por favor, parem de dizer "e está tudo bem..." como se de uma troca de camisola se tratasse. Tem que haver respeito, não só por nós, mas também pelo outro. Aliás, quem não respeita as outras pessoas dificilmente se respeita a si próprio, mas isso já outra conversa que podemos tratar noutro dia...

A verdade é que há casos e casos, há situações em que realmente é necessário eliminar certas pessoas e situações da nossa vida. Há outros que não... Nada se pode pode tratar de uma maneira generalista, o erro está em relativizar e banalizar este tipo de decisões. Não, não está tudo bem, porque cada vida é diferente e cada situação tem uma emergência distinta. 

Vai chegar o dia em que seremos tão intolerantes a interferências que nem conseguiremos sair de casa. É triste. É triste perdermos a capacidade de enfrentar situações difíceis, de dialogar e acertar os pontos pendentes com alguém. Basicamente, vamos aos poucos perdendo a capacidade de resolver conscientemente os nossos próprios problemas.


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